5 de ago. de 2012

CARA a CARA com: Mundo do Tabuleiro


Dando sequência as entrevistas do CARA a CARA com os blogueiros que agitam a cena lúdica do nosso hobby no Brasil, a vítima o entrevistado desta vez será Hermes Müller do Blog Mundo do Tabuleiro.

Ele vai nos contar um pouco sobre ele próprio, o Blog, a Tércos, o Clube Péricles e a Ilha do Tabuleiro.

Agradeço a sua participação Hermes e vamos as perguntas.



1)    Fale um pouco sobre você: nome, idade, profissão e onde vive?
Bom Jefferson, primeiro gostaria de agradecer a você pelo espaço cedido, parabeniza-lo pela iniciativa que tenha certeza já chamou atenção e deve ser bem acessada. Peço licença para os leitores do Jefferson para falar um pouco sobre minha pessoa.

Meu nome é Hermes Herbert Müller, tenho 47 anos, sou projetista de ferramentaria ( projeto moldes de injeção, principalmente), sou nascido e residente em Joinville, portanto Catarina, Barriga Verde. Casado, tenho dois filhos, um já é aborrecente e o outro é futuro Senador pelo papo que tem, aliais as pessoas mais importantes para mim sem a menor duvida.

2)    Quando e como conheceu os jogos de tabuleiro modernos?
Minha história com jogos é antiga, vem lá dos anos setenta. Tinha amigos, com os quais jogávamos aos sábados a noite. Depois lá pelo inicio do século XXI ( olha só isso, parece impressionante, rs!!) devido ao computador, internet numa noite navegando. busquei o assunto jogos de tabuleiros. 

Aos poucos um lugar leva a outro achei o Site Ludomania, daí um tal de BGG, depois a lista BG-BR, Ilha e então começou a fissura novamente. O primeiro jogo foi o Catan e depois o Rá( jogo que gosto muito).

3)    Quando e por que decidiu criar um blog sobre jogos de tabuleiro?
A vontade de criar um blog já tem alguns anos, mas nunca me animei a montar o blog, pois apenas sou um usuário destas máquinas, (não sou fuçador das coisas eletrônicas), detesto o assunto. Então blog para mim parecia exigir conhecer muita coisa ( é ignorante mesmo!!), mas ao mesmo tempo sempre fui matando a vontade em saber mais.

Então trocando figurinhas com  o Julio Trois ( que é da área) , surgiu um incentivo, outra noite um amigo meu Witold, que mantinha um blog sobre rock, eu outro roqueiro ( é o véio aqui curte Rock, fá de primeira do Led Zeppelin, Deep Purple, Floyd,  simplificando rock clássico dos anos 70)... bom voltando ao assunto o Witold que mantinha um blog, ajudou a montar o meu, isso agora em novembro de 2011. 

Daí foi desmistificando essa coisa toda, hoje curto muito fazer o que faço, nem sempre com todo tempo, tem muita matéria em rascunho que não liberei ainda, mas adoro essa brincadeira.

4)    Fale um pouco sobre a Tércos, como surgiu e quando?
Bom a curtição de fazer jogos é muito antiga, remonta ao início dos anos 80. Passei treze anos trabalhando em um jogo de guerra, chamado Batalha. Tenham certeza que é único, detestava o fator sorte do War, então foi a agente motivador para criar o Batalha, neste a sorte foi tratada como problema (afinal ela não existe nas guerras), tem que pensar e planejar, somar tática e estratégia num único sistema de jogo. 

Aos poucos na época criei  outros jogos que no final joguei fora ( não lembro se foi crise existencial, ou o que???).

Então no início do século XXI (haha!!), começou a febre novamente. Como não achei ainda um formato para lançar o Batalha, comecei a desenvolver outros jogos, hoje tem uns 60 a 80 aqui em diferentes estágios. Em 2005 decidi lançar um jogo, trabalhei  no Fronteira, jogo simples para produção (a princípio era para ser um jogo de cartas), tema medieval ( assunto que gosto muito). Fui fazendo tudo como manda o figurino, registrei a marca “Tércos”, depois fiz um monte de outras besteiras.

Em 2007 o jogo estava pronto, um tile placement, passei por gráficas locais, foi uma encrenca só, mas por fim o jogo estava pronto. Ai vinha o maior problema vender. Foi assim que começou, tinha que ter um selo para botar a ideia no mercado.

5)Na página da Tércos no blog, você diz utilizar um sistema alternativo de produção, focada em bons jogos de confecção mista, parte artesanal, parte terceirizada e industrializada.
Sei que inclusive a arte dos seus jogos é você que desenvolve, conte um pouco mais sobre o seu processo de criação/produção de jogos...

Bom é por ai, dá trabalho?? ...dá bastante.

Desenhar é algo que gosto muito, fico relaxado, o homem lá em cima, me deu o dom de desenhar, todos os meus jogos eu desenho tudo, uso Corel ou lapiseira, lápis coloridos, depois vai e volta para o photoshop.

A ideia de produção mista, é decorrente justo do problema que tive com gráficas, se for para fazer aquilo, faço melhor em casa, desculpem a franqueza.

Lógico tem um fator decisivo, o processo me permite ter pequenas tiragens, pouco investimento e capital parado. Em 2008 e 2009 houve muita  discussão  sobre o assunto na Ilha do Tabuleiro, na época não havia o kickstarter que hoje se mostra uma  grande alternativa a nível mundial, podem ter certeza muita coisa boa deve vir por ai.

Mas ainda assim, no fim, você deve ter empresas capazes de fornecer os componentes. Aqui onde moro não existem tais empresas, então o caminho  é este que estou começando a explorar.

Faço uso de gráficas Express, se preciso cortes a laser (como previsto para alguns jogos ainda não lançados), neste caso é industrial e terceirizado.

Moldes para formar peças e valorizar o visual são rígidos, faço uso de Biscuit ( tem que ver as miniaturas de aviões de caça para um futuro jogo de combate aéreo, ou os navios do Flotilha), exige porem tentativa erro até acertar o processo. Muitos componentes são feitos no meu escritório.

Cartas, por exemplo...consigo fabricar com boa qualidade, centradas, mas são trabalhosas, como muitos dos  componentes. Então se o cidadão não tiver esta vontade e paciência, nem comece, não tem milagre na brincadeira.

O processo todo começa com  produzir o jogo a partir da encomenda, ou seja o cidadão quer  o jogo, pede, paga e eu fabrico e encaminho para a pessoa. Busco boa qualidade, e principalmente bons jogos, o atual O Faraó, é exatamente esta proposta, já tem as primeiras unidades vendidas.

6) Qual foi o primeiro jogo que você desenvolveu?

Foi o Batalha entre 1980 a 1993, é um sistema de jogo de guerra, ainda hoje sendo testado para aplicar em diferentes épocas históricas.

7) Quantos jogos você já publicou e quais são eles?
Publiquei quatro:
-Fronteira em 2007;
-Território (expansão do Fronteira em 2009);
- O Faraó em 2012;

8) Quantos jogos você esta desenvolvendo atualmente e quais são eles? Podemos esperar mais alguma novidade para o ano de 2012?
Não dá para listar tudo, a numeração de cadastro ( é sou organizado, cada jogo é registrado) tem hoje 92 jogos diferentes, mas como já havia dito em diferentes estágios de desenvolvimento, destes diria que uns 70 a 80 podem ser jogados e tem pelo menos uns outros 40, além dos 92  como esboços.

Ainda pretendo lançar se possível dois jogos este ano, o Combat Robot é forte candidato, já tem regras sendo escritas e diagramadas.
Outros já testados:

- Castelania, Mundo de Arina, Tuiuti, Numeror são todos potenciais candidatos.
Quem sabe o último que andei postando no meu blog, Vietcong, deu ótimos resultados de saída, tem um foco bem diferente na guerra, pois além do confronto, a coisa vai girar as voltas com a  guerra secreta.

Desde o surgimento de  grupos de guerrilha, células de simpatizantes, a escalada  do conflito. Por outro lado, a luta para destruir estes grupos de guerrilha entre a população civil, que uma vez alvejada, só causa reflexos negativos, bem nos moldes e dificuldades enfrentados pelos americanos.

9) Além de tudo que você já faz em torno dos jogos de tabuleiro, consegue encontrar tempo para jogar? Fale sobre o Clube Péricles, as jogatinas do grupo e quantos membros tem atualmente...
Não podia deixar isso de lado, gosto muito de jogar e das amizades que se faz com as pessoas, é  a melhor parte de tudo isso .

O Clube foi fundado em 3 de Março de 2008, dentro da área de clubes da Ilha do Tabuleiro (digo uma das melhores sacadas e ferramentas dentro da Ilha). Pouco tempo depois de fundar o grupo, o Dippold também aqui de Joinville, entrou em contato por um fórum na Ilha. Então vieram o Dieter e o Sr. Wilson, hoje considero todos meus amigos e gosto muito da amizade deles. Em torno deste núcleo, tudo acontece, muita gente já passou pelo grupo, acho que é normal em qualquer clube. Temos cadastrados 53 pessoas, alguns não são da cidade, mas são amigos do clube.

Já realizamos eventos públicos em parceria com o SESC, Livraria Midas, onde fazíamos uma pequena mostra de jogos e ensinávamos a jogar. Temos um evento agora para o próximo dia 25,  a convite de  um Grupo de Entusiastas da História da IIGM, junto ao 62°BI de Joinville. Lá só teremos jogos de guerra.

Também participamos de eventos em Tubarão junto ao governador da ilha do Tabuleiro, em Florianópolis e Curitiba. Para estes devo visita e vou fazer assim que possível, o Bruno Libonati sabe!.

Também recebemos pessoas de outras cidades em visita a Joinville, que procuraram o clube para conhecer o grupo , Alessandro Caporal, Rodrigo  ( Bullet da Ilha), Thiago Nunes, em razão do aniversário de quatro anos em Março passado, recebemos o Bruno Libonati, Raony e amigos do Floripa on play.

Nas jogatinas jogamos o que tudo mundo joga por esse Brasil a fora, lógico alguns jogos não são do agrado de um ou outro, mas faz parte.
Também rolam seções de teste de jogos, alguns detestam. O pessoal do clube é bem experiente, joga bem, conhecem muitos jogos, mas principalmente busca se divertir sempre com boa dose de bom censo e respeito, conversa animada.

As jogatinas ocorrem nas sextas a noite na minha casa e aos sábados na caso do Dieter, lá é QG de banda de rock, estúdio , então é gente o tempo todo.

10) Você tem um gênero de jogos de tabuleiro preferido? Qual/Quais?
Sempre vai do dia, mas particularmente tenho uma queda pelos jogos de controle de área, gerenciamento de recursos, alocação de trabalhadores. Gosto dos jogos de guerra nível tático um pouco mais do que os outros.

11) Gosta de jogos cooperativos? Porquê?
Gosto devido a  interatividade. Mas não são os meus preferidos.

12)Cite um jogo que te decepcionou e um jogo que te surpreendeu:
Age of Empires III, nem fale em jogar esse trem comigo, tentei diversas vezes mas não vai, dificilmente vou tentar novamente;

Apesar de achar os jogos de dungeons fracos (tem miniaturas bonitas e dadinho e só, não pensa, não faz nada,... ai fica olhando as minis),  mas sendo  um dungeon o Panic Station foi um dos jogos  que mais me surpreendeu, mas este tem uma proposta e suspense, algo que falta aos demais.

13) Cite alguns dos seus jogos favoritos:
Não vou listar um jogo meu, tem diversos que gosto muito mas ...
Sempre Puerto Rico; Caylus; Goa; Railroad Tycoon; ASL tem muitos outros, mas tá bom assim.

14) Um jogo que não cansa de jogar e/ou que não sente mais vontade:
Mecenas ( Tércos);

Olha passado um tempo vez e outra volta com gosto para Catan, Carcassonne, então não tem aquele que não voltaria a jogar por estar enjoado dele. Repetimos poucos jogos no nosso grupo, então é difícil enjoar, pode é não gostar e não jogar por este motivo.

15) Qual seu designer de jogos favorito e/ou que você não curte?
Não tenho, acho que todos tem bons jogos e outros não tão bons, portanto dizer que curte todo trabalho de um autor, não é o caso para mim.  

Mas se for citar um nome devido aos temas abordados é o Wallace, Mas ai falta o Knizia, Kramer, Doria, Faidutti,  por isso não tenho um.

16) O que você acha do atual momento do mercado nacional de jogos de tabuleiro e demais iniciativas em torno do hobby no Brasil?
Houve um verdadeiro agito com a Ilha do Tabuleiro, a chamada Ilha 1.0. Já  haviam grupos que discutiam, agiam e faziam acontecer, mas a digamos “a grande divulgação” ocorreu com a Ilha do Tabuleiro, é fácil constatar apenas pelos números da Ilha, número de cadastros, acessos, postagens, nenhuma iniciativa antes da Ilha fez e chegou a tanto. 

Agora por favor radicais de plantão, longe de querer  dizer que as outras iniciativas não são válidas e não contribuíram.

As consequências de tudo isso são o que vemos hoje, mais e mais  iniciativas como a Galápagos, Ceilikan, RDG, Revista Ludo, a Ludus Luderia, WorldRPG Fest, Meeplehouse, Ortugal, Tércos, diversos blogs, são na realidade a resposta  de todo esse esforço.

Portanto acho que veremos muito mais iniciativas acontecendo. O povo jogador do Brasil, cada vez mais vai ter opções nacionais de bom nível. Num primeiro momento estas iniciativas, vão esbarrar nos paradigmas, pode ter certeza, mas vão estes obstáculos e problemas ser superados também.

17) Conhece e/ou participa de financiamentos coletivos de jogos? Quais?
Conheço um pouco, não participei ainda, acho muito válido.

18) Você participa/acompanha a lista de discussão do BG-BR?
Acompanho a lista, tenho grande respeito por ela por ter muita gente boa participando, opiniões interessantes, mas muito raramente participo, por dois motivos.

Não gosto do formato destas listas, tem outras que faço parte e não gosto do mesmo jeito. É  um saco vasculhar qualquer coisa por lá.
Mas o principal motivo, são discussões que muitas vezes viravam   baixarias ( infelizmente).  

Hoje é bem menos frequente, o grupo é bem mais tranquilo e respeitador das opiniões aleias. Felizmente o Fabio Tola bota ordem neste tipo de problema. Sei que não é apenas lá que ocorre, mas acho desnecessário chegar a este ponto, afinal você esta aqui a digitar e tem todo tempo do mundo para refletir no que esta escrevendo.

Por isso evito participar, nunca se sabe quando aparece um homem bomba!!

19) E sobre a Ilha do Tabuleiro, qual a sua relação com o site?
Bom cheguei na Ilha logo depois que foi ao ar, fiz o cadastro em outubro de 2007. No início apenas acompanhava as discussões, percebia-se que tinha muita gente bacana por lá. Mário ( Groo de Minas), Raul ( uma das figuras mais simpáticas e queridas da Ilha).  Bira, Trois, Cacá, desculpem não vou mencionar todas, mas mereciam.

Depois que comecei a participar acabei me envolvendo cada vez mais. Um dia o Alessandro me convidou para participar da moderação, aceitei.  Acabei conhecendo o Alessandro pessoalmente, mantemos contato com certa frequência, digo que é daquelas pessoas que você ao conhecer passa a admirar.

A Ilha passou pelo seu pior momento em 2009, do qual até hoje não se recuperou, muita gente bacana deixou a Ilha, faz parte. Hoje se percebe que o fórum vem se regenerando ( se é que pode se usar tal termo), novos ilhéus com entusiasmo como os que estavam lá quando tudo começou.

A moderação é uma pagina a parte, conheci pessoas muito boas por lá, são voluntários em tudo, ajudam quando podem. Sou obrigado a destacar outra figura importante, o Xerife, Rogério de Leon, não conheci pessoalmente, mas deve ser o cara. Tenho que citar aqui o grupo, Vinicius, Arnie, Jamilton, Zola, Gustavo Mota, Semiana e Fábio Binder, desculpem se esqueci alguém.

Portanto a Ilha é um lugar que eu gosto, ajudo como posso porque acredito que valha a pena lutar por ela.

20) Quantos jogos tem em sua Ludoteca no momento?
Não sei ao certo, são mais de 120, contando minhas criações, talvez uns 150 com caseiros.
Mais uma vez eu quero agradecer a você Hermes por ter nos dado a oportunidade de conhece-lo melhor e admirar ainda mais o teu empenho e partfaceicipação em torno do nosso hobby, confesso que ainda que não cheguei a percorrer metade da sua caminhada em prol dos jogos de tabuleiro, mas   compartilho do mesmo interesse em divulgar o hobby e trazer este ao conhecimento de mais pessoas.

Não posso deixar de comentar que também compartilho do mesmo gosto musical do nosso entrevistado, ou seja espero em breve conseguir visitar você e o Clube Péricles, para uma boa jogatina regada ao bom e velho Classic Rock.

Obrigado e um grande abraço a você e a todos os envolvidos na propagação dos Board Games no Brasil.


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Sobre keymaker:
keymaker Jefferson Oliveira é gaúcho, empresário, fã dos simpsons desde sempre, fanático por jogos desde a infância, Magic Player desde 1995 e Boardgamer desde que conheceu The Settlers of Catan. Responsável pelo Blog Adoradores de Catan e pelas jogatinas do grupo.

4 comentários:

  1. Obrigado pela oportunidade Jefferson, acho que muita gente sempre tem curiosidade sobre quem é uem nessa nossa aventura, dai esta sua iniciativa ser importante, afinal todo dia tem gente chegando ao nosso meio pelos sites, listas e blogs.

    Cara tenho um vinil pirata do LED aqui comigo.

    Forte Abraço!

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    Respostas
    1. Concordo contigo Hermes, acho que a soma da contribuição de cada blogueiro e demais envolvidos em eventos, feiras e fóruns sobre o hobby é a chave para compartilhar os momentos de diversão e interatividade que vivemos entre amigos e familiares em torno de um bom jogo de tabuleiro.

      Quanto ao vinil do LED, espero conhecer pessoalmente quando rolar a nossa jogatina.

      Abração.

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  2. Grande figura esse Hermes só que agora fiquei muito curioso com esse Batalha...

    Sucesso amigo,
    Abraços

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  3. Pois é Bira a ficha tá lá na Ilha, vou postar umas imagens dos antigos tabuleiros mofdulares que fiz. São mais de 1500, que podem ser usados dos dois lados. Coisa de louco confesso.

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