Dando sequência as
entrevistas do CARA a CARA com os blogueiros que agitam a cena lúdica do nosso
hobby no Brasil, a vítima o entrevistado desta vez será Hermes Müller do Blog Mundo do Tabuleiro.
Ele vai nos contar um pouco
sobre ele próprio, o Blog,
a Tércos, o Clube Péricles e a Ilha do Tabuleiro.
Agradeço a sua participação
Hermes e vamos as perguntas.
1) Fale um pouco sobre você: nome, idade, profissão e onde vive?
Bom Jefferson, primeiro gostaria de agradecer a você pelo
espaço cedido, parabeniza-lo pela iniciativa que tenha certeza já chamou
atenção e deve ser bem acessada. Peço licença para os leitores do Jefferson para falar um pouco sobre minha pessoa.
Meu nome é Hermes Herbert Müller, tenho 47 anos, sou
projetista de ferramentaria ( projeto moldes de injeção, principalmente), sou
nascido e residente em Joinville, portanto Catarina, Barriga Verde. Casado,
tenho dois filhos, um já é aborrecente e o outro é futuro Senador pelo papo que
tem, aliais as pessoas mais importantes para mim sem a menor duvida.
2) Quando e como conheceu os jogos de tabuleiro modernos?
Minha história com jogos é antiga, vem lá dos anos setenta.
Tinha amigos, com os quais jogávamos aos sábados a noite. Depois lá pelo inicio
do século XXI ( olha só isso, parece impressionante, rs!!) devido ao
computador, internet numa noite navegando. busquei o assunto jogos de
tabuleiros.
Aos poucos um lugar leva a outro achei o Site Ludomania, daí um tal
de BGG, depois a lista BG-BR, Ilha e então começou a fissura novamente. O
primeiro jogo foi o Catan e depois o Rá( jogo que gosto muito).
3) Quando e por que decidiu criar um blog sobre jogos de tabuleiro?
A vontade de criar um blog já tem alguns anos, mas nunca me
animei a montar o blog, pois apenas sou um usuário destas máquinas, (não sou
fuçador das coisas eletrônicas), detesto o assunto. Então blog para mim parecia
exigir conhecer muita coisa ( é ignorante mesmo!!), mas ao mesmo tempo sempre
fui matando a vontade em saber mais.
Então trocando figurinhas com
o Julio Trois ( que é da área) , surgiu um incentivo, outra noite um
amigo meu Witold, que mantinha um blog sobre rock, eu outro roqueiro ( é o véio
aqui curte Rock, fá de primeira do Led Zeppelin, Deep Purple, Floyd, simplificando rock clássico dos anos 70)...
bom voltando ao assunto o Witold que mantinha um blog, ajudou a montar o meu,
isso agora em novembro de 2011.
Daí foi desmistificando essa coisa toda, hoje
curto muito fazer o que faço, nem sempre com todo tempo, tem muita matéria em
rascunho que não liberei ainda, mas adoro essa brincadeira.
4) Fale um pouco sobre a Tércos, como surgiu e quando?
Bom a curtição de fazer jogos é muito antiga, remonta ao
início dos anos 80. Passei treze anos trabalhando em um jogo de guerra, chamado
Batalha. Tenham certeza que é único, detestava o fator sorte do War, então foi
a agente motivador para criar o Batalha, neste a sorte foi tratada como
problema (afinal ela não existe nas guerras), tem que pensar e planejar, somar
tática e estratégia num único sistema
de jogo.
Aos poucos na época criei
outros jogos que no final joguei fora ( não lembro se foi crise
existencial, ou o que???).
Então no início do século XXI (haha!!), começou a febre
novamente. Como não achei ainda um formato para lançar o Batalha, comecei a
desenvolver outros jogos, hoje tem uns 60 a 80 aqui em diferentes estágios. Em
2005 decidi lançar um jogo, trabalhei no
Fronteira, jogo simples para produção (a princípio era para ser um jogo de
cartas), tema medieval ( assunto que gosto muito). Fui fazendo tudo como manda
o figurino, registrei a marca “Tércos”, depois fiz um monte de outras
besteiras.
Em 2007 o jogo estava pronto, um tile placement, passei por
gráficas locais, foi uma encrenca só, mas por fim o jogo estava pronto. Ai
vinha o maior problema vender. Foi assim que começou, tinha que ter um selo
para botar a ideia no mercado.
5)Na página da Tércos no blog, você diz utilizar um
sistema alternativo de produção, focada em bons jogos de confecção mista, parte
artesanal, parte terceirizada e industrializada.
Sei que inclusive a
arte dos seus jogos é você que desenvolve, conte um pouco mais sobre o seu
processo de criação/produção de jogos...
Bom é por ai, dá trabalho?? ...dá bastante.
Desenhar é algo que gosto muito, fico relaxado, o homem lá em
cima, me deu o dom de desenhar, todos os meus jogos eu desenho tudo, uso Corel
ou lapiseira, lápis coloridos, depois vai e volta para o photoshop.
A ideia de produção mista, é decorrente justo do problema que
tive com gráficas, se for para fazer aquilo, faço melhor em casa, desculpem a
franqueza.
Lógico tem um fator decisivo, o processo me permite ter
pequenas tiragens, pouco investimento e capital parado. Em 2008 e 2009 houve muita
discussão sobre o assunto na Ilha do Tabuleiro, na época
não havia o kickstarter que hoje se mostra uma
grande alternativa a nível mundial, podem ter certeza muita coisa boa
deve vir por ai.
Mas ainda assim, no fim, você deve ter empresas capazes de
fornecer os componentes. Aqui onde moro não existem tais empresas, então o
caminho é este que estou começando a
explorar.
Faço uso de gráficas Express, se preciso cortes a laser (como
previsto para alguns jogos ainda não lançados), neste caso é industrial e
terceirizado.
Moldes para formar peças e valorizar o visual são rígidos,
faço uso de Biscuit ( tem que ver as miniaturas de aviões de caça para um
futuro jogo de combate aéreo, ou os navios do Flotilha), exige porem tentativa
erro até acertar o processo. Muitos componentes são feitos no meu escritório.
Cartas, por exemplo...consigo fabricar com boa qualidade,
centradas, mas são trabalhosas, como muitos dos
componentes. Então se o cidadão não tiver esta vontade e paciência, nem
comece, não tem milagre na brincadeira.
O processo todo começa com produzir o jogo a partir da encomenda, ou seja
o cidadão quer o jogo, pede, paga e eu
fabrico e encaminho para a pessoa. Busco boa qualidade, e principalmente bons
jogos, o atual O Faraó, é exatamente esta proposta, já tem as primeiras
unidades vendidas.
6) Qual foi o primeiro
jogo que você desenvolveu?
Foi o Batalha entre 1980 a 1993, é um sistema de jogo de
guerra, ainda hoje sendo testado para aplicar em diferentes épocas históricas.
7) Quantos jogos você
já publicou e quais são eles?
Publiquei quatro:
-Fronteira em 2007;
-Território (expansão do Fronteira em 2009);
-Mercadores de Dur Durany em 2011;
- O Faraó em 2012;
8) Quantos jogos você
esta desenvolvendo atualmente e quais são eles? Podemos esperar mais alguma novidade
para o ano de 2012?
Não dá para listar tudo, a numeração de cadastro ( é sou
organizado, cada jogo é registrado) tem hoje 92 jogos diferentes, mas como já
havia dito em diferentes estágios de desenvolvimento, destes diria que uns 70 a
80 podem ser jogados e tem pelo menos uns outros 40, além dos 92 como esboços.
Ainda pretendo lançar se possível dois jogos este ano, o
Combat Robot é forte candidato, já tem regras sendo escritas e diagramadas.
Outros já testados:
- Castelania, Mundo de Arina, Tuiuti, Numeror são todos
potenciais candidatos.
Quem sabe o último que andei postando no meu blog, Vietcong,
deu ótimos resultados de saída, tem um foco bem diferente na guerra, pois além
do confronto, a coisa vai girar as voltas com a guerra secreta.
Desde o surgimento de
grupos de guerrilha, células de simpatizantes, a escalada do conflito. Por outro lado, a luta para
destruir estes grupos de guerrilha entre a população civil, que uma vez
alvejada, só causa reflexos negativos, bem nos moldes e dificuldades enfrentados
pelos americanos.
9) Além de tudo que
você já faz em torno dos jogos de tabuleiro, consegue encontrar tempo para
jogar? Fale sobre o Clube
Péricles, as jogatinas do grupo e quantos membros tem atualmente...
Não podia deixar isso de lado, gosto muito de jogar e das
amizades que se faz com as pessoas, é a
melhor parte de tudo isso .
O Clube foi fundado em 3 de Março de 2008, dentro da área de
clubes da Ilha do Tabuleiro (digo uma das melhores sacadas e ferramentas dentro
da Ilha). Pouco tempo depois de fundar o grupo, o Dippold também aqui de
Joinville, entrou em contato por um fórum na Ilha. Então vieram o Dieter e o
Sr. Wilson, hoje considero todos meus amigos e gosto muito da amizade deles. Em
torno deste núcleo, tudo acontece, muita gente já passou pelo grupo, acho que é
normal em qualquer clube. Temos cadastrados 53 pessoas, alguns não são da
cidade, mas são amigos do clube.
Já realizamos eventos públicos em parceria com o SESC,
Livraria Midas, onde fazíamos uma pequena mostra de jogos e ensinávamos a
jogar. Temos um evento agora para o próximo dia 25, a convite de
um Grupo de Entusiastas da História da IIGM, junto ao 62°BI de
Joinville. Lá só teremos jogos de guerra.
Também participamos de eventos em Tubarão junto ao governador
da ilha do Tabuleiro, em Florianópolis e Curitiba. Para estes devo visita e vou
fazer assim que possível, o Bruno Libonati sabe!.
Também recebemos pessoas de outras cidades em visita a
Joinville, que procuraram o clube para conhecer o grupo , Alessandro Caporal,
Rodrigo ( Bullet da Ilha), Thiago Nunes,
em razão do aniversário de quatro anos em Março passado, recebemos o Bruno
Libonati, Raony e amigos do Floripa on play.
Nas jogatinas jogamos o que tudo mundo joga por esse Brasil a
fora, lógico alguns jogos não são do agrado de um ou outro, mas faz parte.
Também rolam seções de teste de jogos, alguns detestam. O
pessoal do clube é bem experiente, joga bem, conhecem muitos jogos, mas
principalmente busca se divertir sempre com boa dose de bom censo e respeito,
conversa animada.
As jogatinas ocorrem nas sextas a noite na minha casa e aos
sábados na caso do Dieter, lá é QG de banda de rock, estúdio , então é gente o
tempo todo.
10) Você tem um gênero
de jogos de tabuleiro preferido? Qual/Quais?
Sempre vai do dia, mas particularmente tenho uma queda pelos
jogos de controle de área, gerenciamento de recursos, alocação de
trabalhadores. Gosto dos jogos de guerra nível tático um pouco mais do que os
outros.
11) Gosta de jogos
cooperativos? Porquê?
Gosto devido a
interatividade. Mas não são os meus preferidos.
12)Cite um jogo que te
decepcionou e um jogo que te surpreendeu:
Age of Empires III, nem fale em jogar esse trem comigo,
tentei diversas vezes mas não vai, dificilmente vou tentar novamente;
Apesar de achar os jogos de dungeons fracos (tem miniaturas
bonitas e dadinho e só, não pensa, não faz nada,... ai fica olhando as
minis), mas sendo um dungeon o Panic Station foi um dos jogos que mais me surpreendeu, mas este tem uma
proposta e suspense, algo que falta aos demais.
13) Cite alguns dos seus
jogos favoritos:
Não vou listar um jogo meu, tem diversos que gosto muito mas
...
Sempre Puerto Rico; Caylus; Goa; Railroad Tycoon; Rá; ASL tem muitos outros, mas tá bom assim.
14) Um jogo que não
cansa de jogar e/ou que não sente mais vontade:
Mecenas ( Tércos);
Olha passado um tempo vez e outra volta com gosto para Catan,
Carcassonne, então não tem aquele que não voltaria a jogar por estar enjoado
dele. Repetimos poucos jogos no nosso grupo, então é difícil enjoar, pode é não
gostar e não jogar por este motivo.
15) Qual seu designer
de jogos favorito e/ou que você não curte?
Não tenho, acho que todos tem bons jogos e outros não tão
bons, portanto dizer que curte todo trabalho de um autor, não é o caso para
mim.
Mas se for citar um nome devido aos
temas abordados é o Wallace, Mas ai falta o Knizia, Kramer, Doria,
Faidutti, por isso não tenho um.
16) O que você acha do
atual momento do mercado nacional de jogos de tabuleiro e demais iniciativas em
torno do hobby no Brasil?
Houve um verdadeiro agito com a Ilha do Tabuleiro, a chamada
Ilha 1.0. Já haviam grupos que
discutiam, agiam e faziam acontecer, mas a digamos “a grande divulgação”
ocorreu com a Ilha do Tabuleiro, é fácil constatar apenas pelos números da
Ilha, número de cadastros, acessos, postagens, nenhuma iniciativa antes da Ilha
fez e chegou a tanto.
Agora por favor radicais de plantão, longe de querer dizer que as outras iniciativas não são
válidas e não contribuíram.
As consequências de tudo isso são o que vemos hoje, mais e
mais iniciativas como a Galápagos,
Ceilikan, RDG, Revista Ludo, a Ludus Luderia, WorldRPG Fest, Meeplehouse,
Ortugal, Tércos, diversos blogs, são na realidade a resposta de todo esse esforço.
Portanto acho que veremos muito mais iniciativas acontecendo.
O povo jogador do Brasil, cada vez mais vai ter opções nacionais de bom nível.
Num primeiro momento estas iniciativas, vão esbarrar nos paradigmas, pode ter
certeza, mas vão estes obstáculos e problemas ser superados também.
17) Conhece e/ou
participa de financiamentos coletivos de jogos? Quais?
Conheço um pouco, não participei ainda, acho muito válido.
18) Você
participa/acompanha a lista de discussão do BG-BR?
Acompanho a lista, tenho grande respeito por ela por ter
muita gente boa participando, opiniões interessantes, mas muito raramente
participo, por dois motivos.
Não gosto do formato destas listas, tem outras que faço parte
e não gosto do mesmo jeito. É um saco
vasculhar qualquer coisa por lá.
Mas o principal motivo, são discussões que muitas vezes viravam
baixarias ( infelizmente).
Hoje é bem menos frequente, o grupo é bem
mais tranquilo e respeitador das opiniões aleias. Felizmente o Fabio Tola bota
ordem neste tipo de problema. Sei que não é apenas lá que ocorre, mas acho
desnecessário chegar a este ponto, afinal você esta aqui a digitar e tem todo
tempo do mundo para refletir no que esta escrevendo.
Por isso evito participar, nunca se sabe quando aparece um
homem bomba!!
19) E sobre a Ilha do Tabuleiro, qual a sua
relação com o site?
Bom cheguei na Ilha logo depois que foi ao ar, fiz o cadastro
em outubro de 2007. No início apenas acompanhava as discussões, percebia-se que
tinha muita gente bacana por lá. Mário ( Groo de Minas), Raul ( uma das figuras
mais simpáticas e queridas da Ilha).
Bira, Trois, Cacá, desculpem não vou mencionar todas, mas mereciam.
Depois que comecei a participar acabei me envolvendo cada vez
mais. Um dia o Alessandro me convidou para participar da moderação, aceitei. Acabei conhecendo o Alessandro pessoalmente, mantemos
contato com certa frequência, digo que é daquelas pessoas que você ao conhecer
passa a admirar.
A Ilha passou pelo seu pior momento em 2009, do qual até hoje
não se recuperou, muita gente bacana deixou a Ilha, faz parte. Hoje se percebe
que o fórum vem se regenerando ( se é que pode se usar tal termo), novos ilhéus
com entusiasmo como os que estavam lá quando tudo começou.
A moderação é uma pagina a parte, conheci pessoas muito boas
por lá, são voluntários em tudo, ajudam quando podem. Sou obrigado a destacar
outra figura importante, o Xerife, Rogério de Leon, não conheci pessoalmente,
mas deve ser o cara. Tenho que citar aqui o grupo, Vinicius, Arnie, Jamilton,
Zola, Gustavo Mota, Semiana e Fábio Binder, desculpem se esqueci alguém.
Portanto a Ilha é um lugar que eu gosto, ajudo como posso
porque acredito que valha a pena lutar por ela.
20) Quantos jogos tem em sua Ludoteca no momento?
Não sei ao certo, são mais de 120, contando minhas criações,
talvez uns 150 com caseiros.
Hermes Herbert Müller
Facebook: http://www.facebook.com/hermes.muller.9
e-mail: hermeshd@yahoo.com.br
Mais uma vez eu quero
agradecer a você Hermes por ter nos dado a oportunidade de conhece-lo melhor e
admirar ainda mais o teu empenho e partfaceicipação em torno do nosso hobby, confesso que ainda que não cheguei a percorrer metade da sua caminhada em prol dos jogos de tabuleiro, mas compartilho do mesmo interesse em divulgar o hobby e trazer este ao conhecimento de mais pessoas.
Não posso deixar de comentar que também compartilho do mesmo gosto musical do nosso entrevistado, ou seja espero em breve conseguir visitar você e o Clube Péricles, para uma boa jogatina regada ao bom e velho Classic Rock.
Obrigado e um grande abraço a você e a todos os envolvidos na propagação dos Board Games no Brasil.
Obrigado pela oportunidade Jefferson, acho que muita gente sempre tem curiosidade sobre quem é uem nessa nossa aventura, dai esta sua iniciativa ser importante, afinal todo dia tem gente chegando ao nosso meio pelos sites, listas e blogs.
ResponderExcluirCara tenho um vinil pirata do LED aqui comigo.
Forte Abraço!
Concordo contigo Hermes, acho que a soma da contribuição de cada blogueiro e demais envolvidos em eventos, feiras e fóruns sobre o hobby é a chave para compartilhar os momentos de diversão e interatividade que vivemos entre amigos e familiares em torno de um bom jogo de tabuleiro.
ExcluirQuanto ao vinil do LED, espero conhecer pessoalmente quando rolar a nossa jogatina.
Abração.
Grande figura esse Hermes só que agora fiquei muito curioso com esse Batalha...
ResponderExcluirSucesso amigo,
Abraços
Pois é Bira a ficha tá lá na Ilha, vou postar umas imagens dos antigos tabuleiros mofdulares que fiz. São mais de 1500, que podem ser usados dos dois lados. Coisa de louco confesso.
ResponderExcluir